quinta-feira, 4 de setembro de 2014

BREVE, MUITO BREVE FÁBULA




Conta-se que existiu um dia uma pequena criatura protetora, um guardião silencioso que havia sido concebido de um acaso, e que propositalmente foi lançada à Terra sem vestes, nem ouro, nem formosura, tinha como missão a busca do autoconhecimento, mas também claro, a proteção zelosa de um número indeterminado de seres que por algum motivo haviam sido descritos como os escolhidos. Ao longo de sua caminhada terrena a criatura cruzou por muitos destinos, um deles, ouviu-se uma vez, teria sido em um dos maiores vilarejos de pedra e ferro de uma terra qualquer, nesta terra de ninguém, em que haviam predadores com peles de animais sagrados, ele teve o sinal de que havia encontrado mais um de seus aliados. Bastou apenas sentir o balançar das folhas secas das árvores, o brilho das estrelas e a temperatura da lua branca que brilhava no céu naquela noite calma. Era um belo pássaro, um pássaro que outrora possuía penas azuis esverdeadas, mas que infelizmente havia perdido suas belas cores sem ao menos perceber.
Sua missão foi árdua, mas decidida, era necessário mostrar ao Pássaro Azul sua inconfundível aura única, muitas foram as jornadas, conheceram entre muitas caminhas e batalhas, o "oceano do riso" comandado por falsos piratas responsáveis pela falsa alegria de muitas das terras. Um dia o Pássaro Azul acordou radiante pois havia tido bons sonhos, olhou-se no espelho e contemplou novamente sua plumagem, agora em tons ainda mais brilhantes, o momento havia chegado, um momento dúbio, a hora da redescoberta, mas também da despedia, a Pequena Criatura sabia, que quando este dia chegasse, era necessário, juntar novamente sua bagagem, e cada amuleto que tinha conquistado e prosseguir sua jornada.
Não, não foi apenas o Pássaro Azul que havia aprendido a se reencontrar, a contemplar o coração de sua grande alma, a Pequena Criatura também havia colocado em sua mochila de costas um caderno com as palavras que descreviam a cada ensinamento, entre a importância do amor próprio, do respeito da sua própria feição no reflexo e o preço incomensurável de ter um apoio a conquistar pequenos ou até grandes tesouros.
Na noite do desentrelaçamento, o Pássaro Azul recolheu-se em um ninho feito de lembranças boas, antes de partir em definitivo a Pequena Criatura levou até lá um ramo de flores do campo, cada uma com um perfume particular, não ousou olhar para trás, colocou sua velha mochila nas costas e de forma serena começou a perder o chão, aos poucos sua imagem foi desaparecendo pelo céu. Muitos dizem que sua missão ainda não acabou.

Charle Oliveira