segunda-feira, 1 de setembro de 2014

O CENTENÁRIO DE UMA VÓ DOCE

Hoje, dia 1° de setembro, se aqui estivesse, minha doce e firme bisavó estaria completando seus 101 anos, data que com certeza seria de muita festa, churrasco (com gordura, sua predileção) e um bom vinho, uma cervejinha ou talvez aquela caipirinha campeira, é claro.
Tive o prazer de desfrutar da sua companhia por muitos anos, desde minha infância até minha adolescência, quanta felicidade! Pude conversar abertamente sobre os mais variados assuntos, com uma mulher esplêndida, magnifica e muito a frente de seu tempo. Seu posicionamento seguro, sua posse das palavras sempre me encantaram, ah e que palavras. 
Nascida na cidade de Cambará do Sul/RS, serra gaúcha, sim, cenário de uma beleza natural indiscutível, Doceliria Carvalho, ou para os íntimos Vó Doce, não teve um grau educacional avançado, digo pelo menos não teve tempo de frequentar escolas, como era de se esperar nestas épocas e nas regiões interioranas isso era uma desafio, tendo em vista que desde muito jovens guris e gurias eram fundamentais na lida do campo e da casa, infelizmente a escola ficava em segundo plano. Porem eram em suas casas que se dedicavam aos estudos, e ai era de interesse próprio a dedicação para basicamente aprender a ler e escrever (imaginem vocês isso nos dias de hoje), nestas épocas existiam as chamadas cartilhas (diferentes das dos anos 90, pois eu tive algumas cartilhas também, bah!), de várias disciplinas dentre gramatica e aritmética. 
E esta guria que lidava muito bem com os afazeres domésticos (receitas deliciosas) e com as lidas da terra, também dedicou seu tempo a escrita e aí chego ao ápice deste post. 
Como é de se esperar o namoro e a paquera nesta época eram bem, mas BEM diferentes dos dias atuais, quando minha bisa fez a passagem para outro plano, isso lá em 2007, minha mãe e eu queríamos muito (sempre gostei de ter amuletos, objetos importantes que me colocam em ligação com pessoas que eu amo), queria tanto algo que tenha sido de importância pra ela, e assim consegui. Tenho hoje algumas cartas da época do namoro entre ela e meu bisavó, o Sr. Oscar Heleodoro de Ávila, não existe nada de bem mais valoroso que se compare a estas relíquias que hoje tenho. 
O mágico de tudo isso, são as belas palavras trocadas entre os dois "amantes", ambos com pouco estudo, imaginem vocês ainda, sem internet, sem televisão, apenas livros, e não muitos também. As palavras, as frases brotavam de suas almas, com a mais pura e singela sinceridade, no mais, deixo por apreciação de cada um, divido agora com vocês alguns dos meus mais ricos tesouros.