quinta-feira, 25 de setembro de 2014

EU, VOCÊ E A MANGA

Não, eu não deveria estar escrevendo um post agora, só tenho que acordar daqui a pouco às 4h, aliás esse é o porre de São Paulo, tudo é longe pra cacete ou seria meu trabalho que é caralhamente longe da minha casa?
Hoje eu entendo porque logo que cheguei meus convites a alguns amigos pra uma cerveja depois do trabalho eram encarados com um certo pequeno desprezo cansaço. Enfim, foda-se, no caso eu mesmo né. Falo no caso do trabalho amanhã e não sobre a cerveja dispensada.  

Bueno, pra tu que acessa esse modesto blog as vezes e gosta de ouvir algumas músicas que cá estão, apresento-lhes: Eu, Você e a Manga!
Uma banda que eu conheci ao "acaso" e com uma música encantadora, uma letra extraordinária, aliás uma coisa que eu sempre frisei foi o quanto é importante (para os meus ouvidos, no caso) termos além de uma boa canção e melodia, também uma significativa letra. O que encontro em tudo feito por eles.




A banda é de Volta Redonda, no Rio, segue o estilo com um misto de folk, indie e alternativo que só poderia ter um belo resultado e iniciou seus trabalhos poesísticos em 2011, ainda com apenas dois integrantes: Mariana de Freitas e Tom Pereira, hoje a banda é formada por quatro músicos, unidos à Mariana e ao Tom estão Túlio Freitas e Maylson Pereira. 
Lançado recentemente o novo EP Equinócio, que conta com muita vibração, movimento sereno além de letras cantadas com a alma, é composto por seis maravilhosas faixas inéditas.
Infelizmente já teve show aqui em São Paulo e adivinhem quem EU não pode ir? Pois é, oportunidade tenho certeza que não faltará.

Deixo aqui a letra da música que fala de um Eu de ontem, hoje e amanhã e mais contatos da banda pra vocês conhecerem mais deste trabalho muito bem feito e cheio de carinho, poesia e tons pastéis.

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Eu Não Sei Voar

Eu queria ter esse carma morto
E aprender a voar por cima dos outros
Ao menos levitar decolar desse chão impuro
Pra poder te carregar, trazer a sua luz para o meu mundo

E voar para você, voar só pra você

Talvez um livro antigo me traga essa magia
Ou talvez posso dizer, que  isso é filosofia
Sou movido a amor, combustível sem maldade
E pra que eu quero voar? É pra matar essa saudade

E voar para você, voar só pra você

Na Grécia os pensamentos decolavam, Sofia estava lá
Eu tentei pedir pra Afrodite, mas esse dom ela não quis me dar
Por cima desses prédios queria te levar

Mas ainda falta algo, eu não sei voar

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Ouça mais aqui: manga.bandcamp.com
Curta no face: facebook.com/EuVoceeaManga

sábado, 20 de setembro de 2014

O QUE RESTA



O que me resta no final?
Um nada, um destino traçado às avessas?
Uma fórmula enigmática aplicada apenas pela euforia do sentir

Do sentir do olhar profundo, aquele que se abre e revela a dita alma
Do sentir da pele intacta, aquela que é de superfície serena e rasa
Do sentir do aroma fresco, aquele que é feito de intimidade, a genuína
Do sentir do gosto particular, aquele que se choca com sabor do zelo
Do sentir da vibração inquieta, aquela que demonstra ser do fundo do meu ser

Sempre, só sentidos restam
Resista pequeno lobo

ch. oliveira

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

BREVE, MUITO BREVE FÁBULA




Conta-se que existiu um dia uma pequena criatura protetora, um guardião silencioso que havia sido concebido de um acaso, e que propositalmente foi lançada à Terra sem vestes, nem ouro, nem formosura, tinha como missão a busca do autoconhecimento, mas também claro, a proteção zelosa de um número indeterminado de seres que por algum motivo haviam sido descritos como os escolhidos. Ao longo de sua caminhada terrena a criatura cruzou por muitos destinos, um deles, ouviu-se uma vez, teria sido em um dos maiores vilarejos de pedra e ferro de uma terra qualquer, nesta terra de ninguém, em que haviam predadores com peles de animais sagrados, ele teve o sinal de que havia encontrado mais um de seus aliados. Bastou apenas sentir o balançar das folhas secas das árvores, o brilho das estrelas e a temperatura da lua branca que brilhava no céu naquela noite calma. Era um belo pássaro, um pássaro que outrora possuía penas azuis esverdeadas, mas que infelizmente havia perdido suas belas cores sem ao menos perceber.
Sua missão foi árdua, mas decidida, era necessário mostrar ao Pássaro Azul sua inconfundível aura única, muitas foram as jornadas, conheceram entre muitas caminhas e batalhas, o "oceano do riso" comandado por falsos piratas responsáveis pela falsa alegria de muitas das terras. Um dia o Pássaro Azul acordou radiante pois havia tido bons sonhos, olhou-se no espelho e contemplou novamente sua plumagem, agora em tons ainda mais brilhantes, o momento havia chegado, um momento dúbio, a hora da redescoberta, mas também da despedia, a Pequena Criatura sabia, que quando este dia chegasse, era necessário, juntar novamente sua bagagem, e cada amuleto que tinha conquistado e prosseguir sua jornada.
Não, não foi apenas o Pássaro Azul que havia aprendido a se reencontrar, a contemplar o coração de sua grande alma, a Pequena Criatura também havia colocado em sua mochila de costas um caderno com as palavras que descreviam a cada ensinamento, entre a importância do amor próprio, do respeito da sua própria feição no reflexo e o preço incomensurável de ter um apoio a conquistar pequenos ou até grandes tesouros.
Na noite do desentrelaçamento, o Pássaro Azul recolheu-se em um ninho feito de lembranças boas, antes de partir em definitivo a Pequena Criatura levou até lá um ramo de flores do campo, cada uma com um perfume particular, não ousou olhar para trás, colocou sua velha mochila nas costas e de forma serena começou a perder o chão, aos poucos sua imagem foi desaparecendo pelo céu. Muitos dizem que sua missão ainda não acabou.

Charle Oliveira

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

HOJE FOI UM DIA FRIO



LOVUS

Ao sair por esta estrada sem fim, deserta, contando meus passos
sob a madrugada, com as poucas luzes ofuscando meu olhar sensível 
sentindo a brisa do vento noturno tocar com leveza meu rosto, 
e o frescor da liberdade pulsando no meu peito. 

Quero que passem milhões de pensamentos por mim, 
quero que o calafrio de várias presenças atravessem a minha alma,
quero que um caminhão carregado com toda frieza humana me atropele
e que eu fique esticado sobre o asfalto gelado, imóvel.

Que o coração pare de bater por alguns instantes,
deixando de levar a todo meu corpo o sangue quente  
para que eu saiba por algum momento o que é não viver

Charle Oliveira

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

O CENTENÁRIO DE UMA VÓ DOCE

Hoje, dia 1° de setembro, se aqui estivesse, minha doce e firme bisavó estaria completando seus 101 anos, data que com certeza seria de muita festa, churrasco (com gordura, sua predileção) e um bom vinho, uma cervejinha ou talvez aquela caipirinha campeira, é claro.
Tive o prazer de desfrutar da sua companhia por muitos anos, desde minha infância até minha adolescência, quanta felicidade! Pude conversar abertamente sobre os mais variados assuntos, com uma mulher esplêndida, magnifica e muito a frente de seu tempo. Seu posicionamento seguro, sua posse das palavras sempre me encantaram, ah e que palavras. 
Nascida na cidade de Cambará do Sul/RS, serra gaúcha, sim, cenário de uma beleza natural indiscutível, Doceliria Carvalho, ou para os íntimos Vó Doce, não teve um grau educacional avançado, digo pelo menos não teve tempo de frequentar escolas, como era de se esperar nestas épocas e nas regiões interioranas isso era uma desafio, tendo em vista que desde muito jovens guris e gurias eram fundamentais na lida do campo e da casa, infelizmente a escola ficava em segundo plano. Porem eram em suas casas que se dedicavam aos estudos, e ai era de interesse próprio a dedicação para basicamente aprender a ler e escrever (imaginem vocês isso nos dias de hoje), nestas épocas existiam as chamadas cartilhas (diferentes das dos anos 90, pois eu tive algumas cartilhas também, bah!), de várias disciplinas dentre gramatica e aritmética. 
E esta guria que lidava muito bem com os afazeres domésticos (receitas deliciosas) e com as lidas da terra, também dedicou seu tempo a escrita e aí chego ao ápice deste post. 
Como é de se esperar o namoro e a paquera nesta época eram bem, mas BEM diferentes dos dias atuais, quando minha bisa fez a passagem para outro plano, isso lá em 2007, minha mãe e eu queríamos muito (sempre gostei de ter amuletos, objetos importantes que me colocam em ligação com pessoas que eu amo), queria tanto algo que tenha sido de importância pra ela, e assim consegui. Tenho hoje algumas cartas da época do namoro entre ela e meu bisavó, o Sr. Oscar Heleodoro de Ávila, não existe nada de bem mais valoroso que se compare a estas relíquias que hoje tenho. 
O mágico de tudo isso, são as belas palavras trocadas entre os dois "amantes", ambos com pouco estudo, imaginem vocês ainda, sem internet, sem televisão, apenas livros, e não muitos também. As palavras, as frases brotavam de suas almas, com a mais pura e singela sinceridade, no mais, deixo por apreciação de cada um, divido agora com vocês alguns dos meus mais ricos tesouros.